PALI ONJOI, PALI ONJILA – Onde existe um sonho, há um caminho!

“Onde existe um sonho, há um caminho” (Provérbio Africano)

No dia em que são celebrados 130 de abolição da escravatura, creio ser oportuno iniciar algumas reflexões que vêem tinindo em minha mente há algum tempo. Espero serem contributo para discussões e ações.

Hoje pretendo apenas apresentar os tópicos. Espero ao longo das próximas semanas ou meses esmiuçar um pouco mais cada tópico.

PROTAGONISMO, PRECISA-SE!

Quando postei aqui a foto do Joaquim Barbosa como eventual candidato, fiquei surpreso com algumas reações. Antes de tudo quero deixar claro que não apoio o PSB e não faço campanha para qualquer partido ou candidato. Eu exerço política através de ações de cidadania e da sociedade civil organizada. Também não sou votante. Sou apenas formador de opinião, num contexto em que cada um deve ser protagonista de sua própria história.

A única e flexão que quero trazer é que, como dizemos em África, ninguém vai tão longe andando sozinho. Precisamos de pretos protagonistas e não aqueles que vivem desperdiçando tempo e forças, mordendo uns aos outros.

Depois que minha filha começou a sofrer discriminação, fui estudar um pouco mais da história desse país. Passei a entender alguns fenômenos macabros e autodestrutivos. Um deles, é a crença semeada por 500 anos de que pretos são inferiores a outras raças. Talvez essa seja uma das razões porque, muitas vezes, queremos ver um preto bem e destacado. Mas, não com maior visibilidade do nós mesmos.

FOMOS ENSINADOS A SEMPRE DESCONFIAR DE OUTRO PRETO.

Essa á a velha tática de dividir para melhor reinar. Ela existe ainda no meu país africano. Quando alguém ascende a altas posições arruma uma secretária (ou amante ou ambas), mais clara. Branca de preferência. Se não der, pode ser mulata ou preta clara… Ela “demarca o território” e breca os pretos… Porque em “preto não se pode confiar”…

Enquanto não eliminarmos essa “crença limitante” e a desconfiança que guardamos (às vezes de forma inconsciente) de outros pretos, continuaremos andando em círculos…

Se queremos ser protagonistas, precisamos promover uma reforma radical em nossa AUTO-ESTIMA.

Ser protagonista, é ser autor de sua própria história, não precisar de compadres e salvadores … Oportunamente aprofundarei o assunto. Nas minhas redes sociais falo muito disso (não apena para pretos)…

REPRESENTATIVIDADE É CHAVE

CITOMBI KULALE LAYE KAKUMUILA EKOSI: “Quem não dormiu com você, nunca conhecerá suas mazelas e jamais será capaz de falar delas em seu nome” (outro provérbio Africano, mais precisamente UMBUNDU, etnia de minha origem).

Outra crença construída por séculos neste país, da qual os negros não escapam, é a do “compadre”, do padrinho, do herói e do salvador. Talvez seja por isso que os Shows de música, o futebol e os palanques políticos sejam os mais concorridos.

As pessoas acreditam mais em estrelas, craques e “labias doces” que meio que representam sua salvação, ou seu consolo. É mais ou menos assim: Já que nunca vou jogar ou cantar como fulano, me consolo eu assistir ele (a) ouvir ele(a) ou lotar erguer minhas mãos em êxtase para ele (a). Já que não sei falar tão bem como fulano (a), deixo ele me representar e ser porta-voz dos meus sonhos e anseios.

Eu senti na pele isso no dia da minha formatura. Fui o orador da turma. Quanta gente veio me abraçar apertar a mão (único preto numa turma de medicina de escola particular…” E muitos não seguraram a língua..: ” Cara, você tem um ótimo discurso, na minha cidade você pode se candidatar ao que você quiser…”

Agradeci educadamente… Mas dentro de mim vieram mil perguntas…: COMO ALGUÉM QUE ME OUVE UMA ÚNICA VEZ JÁ QUER QUE EU O REPRESENTE? Basta ter “discurso bonito”? Quem disse que como estrangeiro posso representar Brasileiro algum?….

Hoje me expresso, primeiro porque a nova lei me permite, segundo, porque crio 2 pretinhos Brasileirinhos para quem quero deixar um legado de negritude (que inclui outros negros..) com os pés firmes no chão. Terceiro, porque na posição onde cheguei, posso ser ouvido e posso e devo ser referência para outros.

A representatividade vai muito além do “compadrio” e do “bom discurso” que ludibriam a política deste país desde os velhos baronatos bem representados por “Odorico Paraguassu”.

Para alguém representar preto, tem que ter comido comida de preto e dormido em chão duro como preto e com o preto. O resto (inclusive bandeiras partidárias) é discurso de “espertalhão” querendo “levar vantagem”. Disso o país e o mundo está cheio…

Se mal as pessoas confiam em outros pretos, porque será que confiarão em quem não ”dormiu com elas?”…

Para alguém me representar, tem que querer mais do que popularidade/populismo ou estrelato ou as benesses da vida política. Tem que carregar no corpo e na alma as marcas e cicatrizes das lutas dos meus ancestrais. Quem não faz parte desta linhagem de meus ancestrais, jamais terá estrutura humana para me representar!!! Seria ilusão. Eu não vivo de ilusões!!!…

UNIDADE NA DIVERSIDADE

Tenho meus valores religiosos e culturais. Mas respeito e admiro o que há de bom naqueles que nisso são diferentes de mim. Procuro inclusive aprender com eles.

Ao lutarmos em prol da emancipação da nossa raça, precisamos nos agarrar NAQUILO QUE NOS UNE, em ideais e causas que nos são COMUNS. Especialmente em ano eleitoral onde pela 1ª vez temos chance de eleger um negro que nos represente, não é hora de discutir nossas diferenças religiosas, partidárias e de outra natureza.

Antes e acima de tudo, somos pretos. Em minha opinião o foco é: QUEREMOS ALGUÉM QUE NOS REPRESENTE! Alguém que “dormiu com nossas mazelas”. Queremos mais Lázaros Ramos, Seus Jorges, Thaises Araújos, Luiz Gamas, Militões… entre outros espontes alguns anónimos, mas mito genuínos, de identificação com a raça e promoção da raça. É pura ilusão depositar essa expectativa em outros… E muito menos em partidos que muitas vezes gravitam mais em torno da grana e das alianças.

Há diversas formas de resistência e lutas por emancipação. A religião e o partido, são apenas algumas delas.

Portanto, não é hora de disputarmos nossas religiões, opções partidárias, sexuais, ideológicas que mais podem nos dividir do que nos agregar.

Antes de tudo, somos PRETOS, e temos causas PRETAS. Como foi no reino vizinho à WAKANDA (Pantera Negra), precisamos LUTAR JUNTOS, apesar de mantermos o respeito às nossas diferenças (elas são reais, mas não explicam tudo que somos).

Eu só confio em outro preto e até posso esperar que ele me represente, se eu o respeito, apesar de, em alguns aspectos ele ter escolhas diferentes das minhas. Assim se constroem SINERGIAS.

Enquanto desconfiarmos de outro preto (como sempre o opressor fomentou e continua fomentando), nunca teremos Representatividade, nem protagonismo individual ou coletivo.

MUDANÇA DE MENTALIDADE (Mindset)

Essa é uma questão muito mais profunda, que entra no campo pessoal e individual. Requer do indivíduo uma disposição para mudar de uma mentalidade. Deixar de “trabalhar por pão e dormitório” ou depender de “padrinhos e salvadores”, para “trabalhar para mim e para meu povo”, sendo EU, meu próprio salvador, sem necessidade de padrinho nem migalhas de compadrio… Aqui a curva é mais tênue, o “buraco mais embaixo”…

Nesse programa procuramos aprofundar mais essa temática e esmiúça-la no âmbito pessoal. Atenção!!! Pode doer! Mas pode ser o caminho da cura e mudanças profundas para o indivíduo e para gerações inteiras!!!

Que nos próximos 10, 50 anos de abolicionismo, tenhamos muito mais para comemorar. Não como dádivas, mas como conquistas das quais nos orgulhamos, como me orgulhei do domínio da tecnologia de ponta, da autodeterminação e total controle próprio de WAKANDA, no filme PANTERA NEGRA!

Lembre-se: PALI ONJOI, PALI ONJILA“Onde existe um sonho, há um caminho” (Provérbio Africano)

Um grande abraço,

Dr. Ezequiel Chissonde

Africaquovadis

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Dr. Ezequiel Chissonde

Dr. Ezequiel Chissonde

É Médico, Palestrante, Mentor e Treinador de Lideranças. É entusiasta por investir em pessoas que desejam se tornar a melhor versão de si mesmas.
Através de seus projetos, tem impactado inúmeras pessoas ao redor do mundo.
São pessoas comuns que, através do trabalho de Ezequiel Chissonde, fizeram mudanças profundas na história de suas vidas.

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